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Berserker - Vol. III
Caos
Guerras. Caos. Kartaf chega ao poder. Aaron volta de um treinamento intensivo e encontra Ghostard irreconhecível. Agora ele tem que encontrar seus companheiros para tentar parar com o mal que se espalhou por todos os lugares.

Autor: Fernando S Florim
Ano de Lançamento: Em breve
Editora: Revolt
Páginas: 280
ISBN: xxx
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Em breve

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Capítulo 1

Já fazia dois dias que a pequena Viviane não comia nada.
Com seus oito anos, a princesa de Pinda vivia em um conto de fadas. Seu pai, o rei Claudi, era muito carinhoso e fazia todas as suas vontades. Tinha vários vestidos coloridos cheios de rendas e bordados. Ganhara um pequeno pônei no último aniversário, e prontamente se apaixonou pelo animal. Chamava-o de “Berg”. Era branco e tinha manchas marrons por todo o corpo. Viviane e Berg andavam por todo o reino, as pessoas da cidade amavam a pequena princesa, sempre sorridente, com seus longos cabelos loiros, transmitia amor e bondade por onde quer que passasse. Isso mudou quando, em uma manhã ensolarada passeavam juntos sob um céu claro e sem nuvens. Uma lança surgiu voando em sua direção, sem que ninguém houvesse percebido. Acertou o peito de Berg.
Viviane não entendeu o motivo de Berg ter caído e a derrubado. Ela chamou seu nome, mas o pônei não respondeu. Não se movia. A princesa se levantou e foi até ele quando descobriu a lança fincada em seu corpo e um sangue vermelho e pegajoso que lentamente escorria pelo gramado e começava a formar uma poça um pouco mais abaixo.
- Berg. – Chamou Viviane, com os olhos marejados. - Berg.
Foi interrompida por outra lança que se fincou no chão ao seu lado. A pequena princesa olhou assustada para trás e viu, o que parecia ao seus olhos, enormes monstros verdes montados em lobos cinzas, e outros correndo a pé em sua direção. Jogando lanças para todos os lados, colocando fogo às construções, derrubando as pessoas que apareciam em seu caminho. Ela estava muito longe do castelo, gostava de andar com Berg, mas agora teria que voltar sem ele.
Com as lágrimas correndo livremente pelo rosto, Viviane correu entre as casas e se refugiou em uma construção de madeira onde havia outros animais dentro. Ao entrar fechou a porta e foi até o fundo onde havia uma janela entreaberta. Dali viu esses monstros passarem. Entre eles havia outros, muito maiores, cinzas, de pele grossa e carregavam um pedaço de madeira rústica nas mãos. Estes destruíam as casas de madeira com poucos golpes.
Ela estava bem no limite da cidade. Logo a onda de monstros tinha quase toda passado, quando a princesa percebeu o cheiro de fumaça. Ao olhar para trás, viu o fogo se alastrando e os animais assustados tentando fugir dali. As chamas empurravam os animais para o fundo. Viviane ficou assustada com a aproximação dos animais, pulou a janela e começou a correr. Alguns monstros perceberam sua movimentação e começaram a persegui-la. Mas a princesa era esperta e logo entrou em uma casa semi destruída, por um buraco no meio dos escombros e, quando os monstros chegaram e não conseguiram entrar pelo buraco, incendiaram o local, mas a essa altura, ela já estava longe, correndo para a floresta.

Os portões externos do reino já tinham desaparecido há dois dias. Orcs e Trolls haviam reduzido a cidade à cinzas. Poucos guerreiros ainda resistiam aos monstros que começavam a penetrar no castelo. Depois da primeira onda invasora, Claudi se gabou por ter conseguido matar todos os monstros. No fim do dia começou a se desesperar com o desaparecimento de Viviane. Na mesma madrugada chegaram outros monstros e pegaram os guardas desprevenidos. A fumaça era vista de longe. Talvez tenha sido isso que chamou a atenção de dois viajantes.
A invasão prosseguiu por dois dias, até o castelo ser rodeado por Orcs e Trolls.
O fosso, fundo e com água até a metade, impedia os invasores de avançarem a não ser pelo portão principal. Este estava aberto, porém os guardas resistiam bravamente, pois os monstros tinham que lutar em igualdade de número. Os arqueiros atiravam suas flechas acertando os monstros que rodeavam o castelo, mas também viam que o número deles aumentava com mais criaturas vindo do norte.

- Precisamos encontrar Viviane. – Disse Claudi para a rainha.
- Estamos cercados. Você já mandou três da sua guarda pessoal e nenhum voltou ainda. – Respondeu a rainha. – Precisamos nos preparar para o pior.
- Não. – Respondeu o rei. – Ela está viva. Eu saberia se ela tivesse morrido.
O barulho da luta que entrava pelas janelas começou a diminuir. Claudi olhou à sua volta e observou o quarto da rainha. Toda pompa e luxo não serviriam para os proteger dos invasores, apenas com a porta principal fechada oferecia alguma resistência. Havia outra saída pelos fundos, usada pelos criados. A rainha estava sentada na beirada de sua cama, o dossel há muito arrancado. Três aias estavam curvadas ao fundo aos prantos. Dois guerreiros armados com lanças ficavam na frente da porta. Claudi estava em pé na frente da rainha.
Pela janela um vulto passou, logo depois outro homem caiu gritando, por ali.
- Estão no telhado. – Comentou Claudi.
O barulho de luta invadiu o corredor. Ainda fraco. Mas o suficiente para assustar os presentes.
O som de uma pancada forte na porta fez com que todos pulassem em seus lugares. A rainha soltou um pequeno grito. E se pôs de pé.
- Vamos morrer. – Disse ela.
O rei timidamente tirou uma espada da bainha que carregava em sua cintura. Não era um guerreiro, vivia em paz há muito tempo. Havia homens que cuidavam de possíveis desordeiros.
- Não se preocupe. – O rei disse para a rainha. – Eu te protejo.
Seria cômico se não fosse trágico. A rainha até sentiu vontade de rir, mas a expressão séria no rosto de seu marido quase a levou a acreditar em suas palavras. Ela sabia que ele não duraria mais que duas trocas de golpes contra um daqueles orcs, mas a disposição e coragem de tentar defendê-la fez com que ela o admirasse mais que nunca.
Outra pancada forçou a porta, fazendo voar poeira dos batentes que a seguravam.
- Preparem-se. – Falou o rei para os dois guardas.
Não que fosse necessário, pois eles estavam com as pernas arqueadas apontando as lanças para a porta. As mãos apertando os cabos das armas já estavam sem cor, tanta era a força que seguravam. Outra pancada, a madeira da tranca rachou.
O barulho de lutas ainda ecoava pelo corredor, agora mais alto. As aias desapareceram pela porta de serviço. A rainha foi até lá e fechou a porta novamente. Ao lado da porta principal tinha uma janela, e o sol estava havia baixado o suficiente para atrapalhar a visão de quem olhava para esse lado.
Com um estrépito, a porta se escancarou, dois vultos foram atacados pelos guardas e caíram sem vida.
- Parece que ainda estão resistindo lá embaixo. – Disse um dos guardas. – Estes vieram sós.
Outros três orcs vieram pelo corredor e atacaram os guardas. O homem da esquerda conseguiu matar um orc rapidamente, mas sua lança ficou presa no corpo do atacante e então não conseguiu se defender do outro orc. O guarda da direita também derrotou seu oponente rapidamente, entrando em luta com o orc remanescente, não escutou o barulho de pesados passos que chegavam pelo corredor.
O guarda que estava vivo era na verdade o comandante geral de Pinda. Sobrepujou o orc em pouco tempo e sacou sua espada para aparar o ataque do novo oponente que acabara de entrar no quarto.
Claudi estava em frente à rainha, com os braços abertos, tentando protege-la o melhor que podia. Não conseguia ver os detalhes nitidamente, por causa do sol que feria seus olhos, mas percebeu que aquele ali não era um orc comum. Era bem maior que os outros que já tinha visto, e vestia uma armadura, pois a espada do comandante resvalava e não feria o oponente.
O orc também era mais forte que os outros, pois acertou um golpe que arrancou o braço esquerdo do comandante como se fosse de papel. O homem caiu de joelhos em choque e não ergueu a espada para se defender quando o orc abaixou a sua arma sobre a cabeça dele.
Claudi também entrou em choque e não conseguia se mover. Aquele enorme orc esquadrinhou o quarto e parou os olhos sobre o rei. Este deixou cair a espada que segurava e ouviu o barulho dos passos pesados em sua direção.
O orc não estava com pressa. Sabia que aquele era seu prêmio, matando o rei tomaria o castelo definitivamente. Dava cada passo saboreando o momento.
Claudi começou a se lembrar de Viviane. Logo seu passado veio à mente. Crescendo nos braços do pai, sua coroação, o dia em que conheceu a rainha, que tinha sido prometida a ele desde que era criança. Ainda assim foi paixão à primeira vista. O nascimento de sua filha e todos os bons momentos vividos com ela até ali. Agora ela estava desaparecida. Uma lágrima se formou em seus olhos quando viu o orc levantando sua espada com uma expressão de triunfo nos olhos.
Mas o orc não baixou a espada. Claudi viu e não entendeu quando uma espada saiu pelo peito do monstro e parou a centímetros dele. Depois do que pareceu uma eternidade, a espada voltou para dentro do orc e este desmoronou no mesmo lugar.
A luz agora cegava o rei, mas conseguiu distinguir um vulto de um homem que segurava uma espada com a ponta para baixo, pingando algo dela. Ele parecia estar todo de negro.

Capítulo 2



Claudi piscou e forçou a vista. O homem estava realmente de negro. Cabelos negros levemente ondulados caíam na altura do ombro, roupa de couro, deixava os braços bronzeados e fortes para fora.
- O que... – Começou a balbuciar Claudi, mas parou quando percebeu um segundo homem logo atrás. Alto e esguio, carregava uma criança no colo.
- Papai! – Gritou a criança pulando do colo do homem e correndo em direção à Claudi.
O rei só percebeu que era sua filha quando sentiu o aperto da princesa e logo depois da rainha por trás.
- Viviane. – Disse ele. – Está viva. Eu sabia. O que aconteceu?
Mas antes da menina falar qualquer palavra, o barulho de vários passos encheu o corredor. O homem de negro virou-se para a porta e retirou uma segunda espada das costas, se colocando em posição de ataque.
O segundo homem passou por ele e se dirigiu ao rei:
- Vocês estão bem?
Só então Claudi percebeu que era um elfo, mesmo escondido sob um manto cinzento, as orelhas pontudas e o tom levemente esverdeado de sua pele o denunciavam.
- Estamos. – Respondeu Claudi com os olhos molhados.
Três orcs entraram e foram facilmente abatidos pelo homem de negro. Logo vários outros avançaram pelo corredor.
- Existe alguma outra saída deste quarto sem ser pelo corredor? – Perguntou o elfo.
O homem soltou um grito, que distraiu o rei e se lançou pelo corredor atacando os outros orcs.
- Aaron! – Gritou o elfo. – Volte. Precisamos sair daqui.
Mas o homem não voltou. Continuou cortando os orcs invasores e limpando o corredor.
- Existe uma porta que leva aos aposentos dos criados, ali atrás. – Disse o rei.
- Aaron! Controle-se! – Gritou o elfo. – Estamos saindo por aqui.
Aaron só parou ao derrubar o último orc e voltou para o quarto.
- Você precisa controlar esse instinto de luta. – Falou o elfo.
- Glize, eu posso matar facilmente esses orcs. – Retrucou Aaron.
- Use sua cabeça. Você viu a quantidade de inimigos lá fora.
Glize se virou e entrou pela porta indicada, sendo seguido pelo rei, rainha e princesa. Aaron se demorou um pouco olhando pelo corredor, à espera de mais algum inimigo, mas nenhum veio. Virou-se e seguiu o grupo.
- Quem são vocês? - Perguntou Claudi.
- Amigos. – Respondeu Glize. – Tem alguma passagem escondida para nos tirar desse castelo?
- Se passarmos pelo refeitório, podemos chegar à sala de audiências, atrás dela tem uma passagem que nos levará para a floresta. Mas o refeitório e a sala de audiências devem estar cheios de inimigos. – Disse o rei.
- Ótimo. – Falou Aaron passando por eles. – Qual a direção?
O rei apontou e o grupo seguiu, liderado por Aaron, que derrubava todos os monstros que cruzavam seu caminho.
Até o refeitório foi um caminho longo, mas com muito pouco inimigos. Eram vários corredores usados geralmente pela criadagem. Apenas os trabalhadores do castelo usavam esse refeitório. A realeza e os cortesões tinham seus próprios salões de banquete.
Aaron, que ia na frente, foi o primeiro a entrar no refeitório.
- Acho melhor vocês esperarem um pouco. – Disse. E se atirou para dentro do recinto.
O som de espadas se chocando, gritos e urros, assustou o rei. Parecia que havia vários guerreiros lutando ali dentro. Não conseguindo mais conter sua curiosidade, Claudi abriu a porta e olhou, a tempo de ver Aaron cortando o último orc que restava em pé. Havia corpos de orcs e criados, a julgar pelas roupas que vestiam, por todos os lados. As mesas estavam quebradas ou reviradas. Louças também enchiam o chão.
- Por onde agora? – Perguntou Aaron.
A rainha e sua filha entraram no refeitório, seguidos por um elfo de cara amarrada que disse:
- Aaron, já falei sobre isso. Controle-se.
O homem apenas sorriu e se aprumou onde estava.
- Vamos por esta porta. – Indicou Claudi.
Aaron fez uma mesura para Glize estendendo o braço, para que este liderasse. O elfo passou então à frente deles e foi mais cauteloso ao entrar pelo corredor. Andaram por um tempo no escuro, nenhuma tocha havia sido acesa ali. O corredor terminava atrás de dois tronos, ficando escondido por uma cortina vermelha que descia do teto ao chão. O salão estava repleto de orcs e vários corpos de soldados espalhados pelo chão. Os monstros não notaram a presença daquele pequeno grupo.
- Onde fica a saída para a floresta? – Perguntou Glize em voz baixa para o rei.
- Atrás daquela outra cortina.
A cortina ficava do outro lado do salão, ainda passando por trás dos tronos.
- Vamos tentar passar despercebidos. – Disse o elfo. – Eu vou na frente, o rei e sua família vêm atrás e Aaron defende nossa retaguarda se for preciso.
Com um aceno silencioso, a comitiva se moveu para a outra cortina. Quando estavam atrás dos tronos, Viviane não viu um elmo caído de um guarda em seu caminho e o chutou. O barulho do metal batendo nas pedras soou muito alto e chamou a atenção daquela massa inimiga.
- Corram! – Gritou Glize, desembainhando a espada.
O rei e sua família correram por trás do elfo e entraram pelo corredor.
- Vá! – Gritou Aaron ao se postar ao lado do elfo. – Eu já alcanço vocês.
Glize então correu atrás do rei e logo o alcançou. Foi guiado por um labirinto de corredores escuros e mofados.
Aaron se atirou contra o orc que tentava alcançar Glize, matando-o facilmente com uma das espadas, enquanto aparava o ataque de outro orc que vinha quase ao mesmo tempo em sua direção. Como se fizesse parte de um baile, foi dançando entre os monstros e deixando um rastro cinza das espadas seguido de um escarlate tardio feito do sangue dos inimigos. Vários Orcs jaziam agora junto aos guardas mortos. Outros monstros olharam desconfiados para o homem vestido de negro, mas não demoraram a atacar. Ao mesmo tempo, atraídos pelo barulho, outros Orcs começaram a entrar pela porta frontal do salão.
- Finel. – Sussurrou Aaron.
Os Orcs desaceleraram, Aaron os cortava com facilidade, até se deparar com um Troll. Os cortes superficiais apenas irritaram o monstro, Aaron não conseguia se concentrar nele, pois outros Orcs atacavam simultaneamente e o afastavam antes que pudesse causar algum dano real. Uma espada cortou a lateral de sua vestimenta, levando um pedaço de carne e sangue juntos. Aaron conseguiu saltar para o lado e evitar um ferimento maior, mas levou uma pancada de outro Orc que estava no caminho. Os corpos se empilhavam, mas o número de inimigos parecia aumentar.
- Aaron! – Um grito soou alto do fundo do salão.
Mas o jovem não deu atenção, continuando a atacar os Orcs sem descanso.
- Você quer morrer nesse lugar? – A voz de Glize finalmente acertou um ponto sensível de Aaron.
- Não vou morrer para esses fracotes. – Respondeu ele arfando.
- Não seja estúpido. – A voz do elfo era gélida. – Você já está cansado dos últimos dias, e não viu a quantidade de monstros lá fora. Venha agora!
Aaron não gostava de ser chamado de estúpido, mas sabia que quando Glize o fazia, não era em vão. Começou a recuar lentamente enquanto abatia outros Orcs.
- Rápido. Me siga.
Glize desapareceu pela porta, Aaron ainda abateu mais três Orcs antes de segui-lo. Por vários minutos, Aaron acompanhou o elfo através de corredores estreitos, fedidos e mal iluminados. Portas quebradas ou emperradas na metade, teias de aranha grudando em seus cabelos. O som dos Orcs que os estavam perseguindo foi morrendo aos poucos.
- Eu poderia ter acabado com eles. – Disse Aaron depois de um tempo.
- Não. – Respondeu o elfo. – Não poderia. Você usou aquela técnica proibida há apenas dois dias, seu corpo está debilitado ainda. Espero que nunca mais precise usar ela. Mesmo se estivesse descansado, o número de inimigos era muito grande. Você não tinha espaço.
Contrariado, Aaron sabia que aquelas palavras eram verdadeiras. Aprendeu a confiar em Glize, sabia que o elfo era muito velho e sábio. Não foi chefe da guarda de Noriel à toa. Logo chegaram a uma porta que estava encostada e cheia de musgo por cima. Ao saírem por ela, deram em uma clareira escondida pelo mato. Claudi e a família real estavam aguardando.
- Como você sabia o caminho? – Aaron estava genuinamente surpreso com tantos desvios e mudanças de direção que haviam tomado, que havia se perdido há muito tempo.
- Acompanhei o rei até aqui antes. – Respondeu Glize Simplesmente.

Capitulo 3


- Você tem algum lugar para se esconder? – Perguntou Glize à Claudi.
- Se conseguirmos chegar à Aracat, tenho certeza que o Rei Petrus nos dará abrigo. – respondeu o rei.
- Nós os acompanharemos até lá. – Falou Aaron que estava por perto, ouvindo.
A caminhada pela floresta foi relativamente fácil. Não havia animais por perto, todos afugentados pela bagunça causada pela horda invasora. A mata também não era densa, mas providenciava uma cobertura suficiente para não serem vistos da estrada. Porém estavam todos exaustos, exceto Glize, que parecia ter acabado de acordar de uma longa noite de sono. Somente quando o castelo de Pinda não podia mais ser visto foi que o elfo parou para descansarem.
Claudi vinha trazendo Viviane nos braços, sua esposa acompanhou o trajeto sem reclamar. Aaron não queria demonstrar, mas aparentava sofrer com o corte feito na luta dentro do castelo.
A viagem que normalmente levaria cinco dias se feita pela estrada usando cavalos, demorou quase um mês inteiro. Aaron e Glize estavam sempre alertas procurando por possíveis inimigos, revezando à noite para montar guarda. Ao mesmo tempo, Claudi e a família foram relaxando visivelmente. Depois de alguns dias, o choque passou e foi mais fácil voltarem a sorrir. A pequena Vivian começou a encher o elfo de perguntas o tempo todo, o que parecia divertir Aaron, que acabou se tornando amigo do rei. Muito curioso, Aaron perguntava sobre a vida na corte, os deveres e problemas do rei, e como fazia para solucioná-los, e Claudi sempre respondia com empolgação, era difícil alguém que se interessava por seus problemas.
- Não entendo. Por que tem tanta gente vivendo no castelo sem nenhuma função? - Perguntava Aaron – Por que eles não têm suas próprias casas fora do castelo?
- Os cortesões são nascidos na nobreza, filhos de pessoas ricas ou com títulos importantes, mas nem todas vivem no castelo, apenas passam o dia lá. - Respondia Claudi pacientemente.
Depois de alguns dias, Aaron e Glize relaxaram um pouco, começaram a treinar esgrima no final da tarde, depois de montar o acampamento e deixar a família real cuidando da comida. Geralmente caçada por Glize durante a tarde.
Por duas semanas eles caminharam despreocupados, firmando uma amizade natural e sem interesse. Aaron não revelou quem era, dizia apenas que estava estudando com o elfo para se tornar um guerreiro melhor.
Em uma noite, Aaron estava de guarda, porém tinha treinado um pouco mais forte com Glize e por isso estava cansado, até sonolento. Claudi dormia com sua esposa e filha bem perto do fogo, à noite costumava esfriar o tempo e eles tinham saído de seu lar às pressas. Glize sempre se retirava para trás de alguma árvore, se ocultando em suas sombras. Aaron deveria ficar alerta e às vezes fazer uma ronda ou mudar de lugar para poder vigiar melhor, mas esta noite a preguiça falou mais alto.
- Não! Nos deixem em paz! - A voz de Claudi soou estridente cortando o estupor de Aaron.
A adrenalina correu pelas veias do jovem Berserker, de um pulo ele chegou à fogueira onde viu o rei e sua família debaixo de uma rede e quatro orcs puxando algumas cordas que faziam essa rede se fechar ao redor deles.
- Onde você estava? - Perguntou Glize ao passar por Aaron em uma velocidade surpreendente.
Aaron não respondeu, limitou-se a seguir o elfo e atacar aqueles monstros. Pouco antes de ser atingido, o último orc soltou um urro muito alto, que foi interrompido quando sua cabeça voou para o chão.
- Vocês estão bem? - Aaron se dirigiu à Claudi.
- Só estamos enroscados nessa rede, mas ninguém está ferido. - Respondeu o rei.
Glize e Aaron tiraram pequenos punhais de suas roupas e cortaram a rede em vários pontos para libertar a família real.
- Vamos sair daqui. - Falou o elfo.
Mal ele acabou de falar, um par de olhos refletiu a luz da fogueira, e logo outros pares se juntaram a estes. Não tinha como não perceber que estavam cercados por dezenas de olhos se aproximando silenciosamente.
- Os orcs não costumam se mover tão silenciosamente ou tão organizadamente quando estão tentando pega alguém. - Observou Glize.
Pouco antes de entrarem na área iluminada pela fogueira, eles pararam. Apenas algumas pontas de armas diversas começaram a captar a luz proveniente do fogo. O silêncio era opressivo, ninguém ousava se mover. Nem o pequeno grupo em volta da fogueira, nem a enorme quantidade de monstros que os cercavam.
- Papai, estou com medo. - A pequena Vivan quebrou o silêncio.
- Não se preocupe, papai está...
Mas o rei foi interrompido com um misto de grito e palavras irrompidas de algum lugar mais ao longe. Imediatamente os orcs começaram a bater com as armas e os pés no chão, urrando com vontade, apesar de não saírem do lugar. Todos estavam nervosos, a família real no centro com Aaron e Glize um em cada lado, protegendo-os. O barulho parou abruptamente e uma voz rouca e medonha se fez ouvir.
- Entrrrreguemmm o reeei.
Ninguém se moveu. Claudi começou a falar:
- É o fim, eu sei que vocês tentaram...
- Cale-se! - Falou rispidamente Glize. - Ninguém vai abandoná-los.
Claudi engoliu o resto das palavras, colocou-se de costas para sua filha e esposa, abrindo os braços para tentar defendê-las.
Outro grito misturado com palavras indecifráveis cortou o silêncio e os orcs começaram a fazer barulho novamente.
Contenha-se. - O elfo falou o mais baixo possível, mas de forma que Aaron pudesse ouvir.
“Como ele sabe?” - Pensou Aaron. O elfo estava longe e de costas para ele. O Berserker estava com os músculos retesados, quase avançando sobre os orcs, mas se segurou ao ouvir a advertência de Glize. Mas não precisou esperar muito. Logo os orcs avançaram.
- Finel! - Sussurrou Aaron, se lançando contra os orcs. A segunda espada saiu de suas costas logo no segundo ataque. Pelo som de espadas se chocando, Glize também entrou na luta, do outro lado.
Aqueles orcs estavam vestindo armaduras pesadas de ferro, então davam um pouco mais de trabalho para serem derrotados.
Aaron tentava lutar perto de Claudi, para não dar espaço para os orcs se aproximarem da família real, o elfo fazia o mesmo, pelo outro lado. Estavam conseguindo conter aquela massa. Mesmo cansado, Aaron já estava gostando da luta, quando sentiu um vulto passando por ele. Ao prestar atenção, descobriu que Glize havia sido jogado em sua direção. O elfo se levantou e matou alguns orcs que estava perto. Aaron virou-se e foi tentar conter os inimigos do outro lado para tentar proteger o rei. Não havia mais orcs desse lado. Na verdade, nenhum inimigo estava à vista.
- Cuidado Aaron. - Gritou Glize lá de trás.
O rei abraçava sua família ainda perto da fogueira. Nenhum movimento vinha do escuro. Glize rapidamente acabava com os orcs remanescentes. Aaron sentiu o deslocamento de ar antes de perceber o ataque. Uma figura esguia o atacou com uma espada, Aaron aparou o ataque mas foi jogado para trás com a força do golpe. Só se equilibrou depois que tinha passado por trás de Claudi.
A fogueira lançou sua luz fraca sobre o rosto pálido e ossudo de um elfo. Os olhos eram vermelhos sem pupilas. Vestia-se com uma túnica toda escarlate, com pequenas runas negras entalhadas na parte de baixo. Quase não fazia barulho ao andar.
- Quem é você? - Perguntou Aaron.
O elfo, ao invés de responder, levantou novamente sua espada, com uma agilidade que surpreendeu Aaron, mesmo usando magia para aumentar sua velocidade. Quase não conseguiu se defender. Glize passou por ele e atacou o elfo, que parou o golpe facilmente. O contra ataque do elfo desconhecido, levantando o cotovelo e batendo com a palma da mão que estava vazia, contra o corpo de Glize, Jogou-o longe novamente.
Aaron atacou o elfo, que se desviou do primeiro ataque e aparou os outros com facilidade. O inimigo era tão mais forte que Aaron sussurrou:
- Shiiaruu.
No mesmo instante sua força aumentou consideravelmente. O elfo começou a ter dificuldades para aparar os golpes. A luta se tornou bem equilibrada.
Glize aproveitou que o inimigo estava distraído em luta, pegou a família real e fugiu para dentro da escuridão. O elfo inimigo tentou seguí-lo mas foi interceptado por Aaron. A luta se tornou mais franca, o Berserker levou vários golpes menores, nenhum fatal e conseguiu acertar uma ou duas vezes o elfo, ainda que só provocasse pequenos arranhões quando o fazia.
- Não entendo por que o mestre tem interesse em alguém tão fraco. - Disse o elfo inimigo, assustando Aaron.
- Quem é você? O que quer dizer com isso? - Gritou Aaron de volta, mas o elfo havia sumido na escuridão e por mais que Aaron o procurasse, não conseguia encontrar nenhum vestígio dele.

Apenas quando estava amanhecendo foi que Glize permitiu a Aaron achar o grupo escondido. Glize não deixou transparecer seus ferimentos e Aaron fez o melhor que pôde para também ocultar os seus da família real. Mesmo cansados, se forçaram a andar o dia todo, deixando para descansar apenas no final da tarde. Glize fez questão de ficar de vigia esta noite, Aaron dormiu como uma pedra. Os próximos dias transcorreram em paz, mas tanto Aaron quanto Glize não relaxaram mais. Sempre alertas, deixaram até de treinar para estarem descansados caso outro inimigo aparecesse.

Em pouco mais de uma semana, avistaram uma cidade ao longe, com um muro não muito alto e um castelo relativamente pequeno no centro.
- É Aracat! - Exclamou Claudi. - Finalmente.
Com muito cuidado, Glize e Aaron conduziram o grupo para dentro da cidade, não havia guardas nos portões. Apenas na entrada do castelo foram interceptados, mas ao ouvir o nome de Claudi, foram escoltados para dentro e aguardaram até que o rei Petrus pudesse identificar Claudi. Petrus recebeu o amigo, prometeu ajudar a retomar a cidade e deixar sua família em segurança. Aaron e Glize também foram bem tratados, ficaram poucos dias no castelo se recuperando e partiram para Callámeda.
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